Sobre limites e apoios

Guilherme Moraes da Silva
6 min readOct 27, 2023

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Ainda não estou preparado para ter algumas conversas sobre mim.

Nesta semana tive muita interação social. Talvez mais interação social do que tive desde o começo de 2020, lá no comecinho da pandemia.

Sou uma pessoa muito discreta. Gosta desse caminhar nas sombras e nos lugares onde vejo tudo e quase ninguém me vê. Gosto deste lugar e sinto um certo conforto por não ter de ser linha de frente nas várias batalhas que temos na vida.

Claro que reconheço que é importante ter pessoas na linha de frente, mas essa não é minha forma de agir. Reconhecer limites é o primeiro passo para estar tranquilo consigo.

Recentemente recebi um diagnóstico que explica muito sobre mim. Não, não quero falar tão abertamente sobre isso. Quero partilhar um pouco mas não muito, espero que você entenda meu limite.

Na minha semana atribulada, tive contato com o Thiago Beni. Ele me contou um pouco (bem brevemente) o que é essa limitação de ser pai e como os útlimos cinco anos foram meio intensos nessa arte da paternagem. Ouvi e fiquei pensando se estou preparado para isso.

Este é o ateliê bixiga. Se você não conhece, deveria conhecer. Lá é uma certa forma de encruzilhada em que muita coisa boa é gestada, fermentada e apresentada

Neste dia (noite) ainda troquei afetos verbais com o Andrés Cevallos na volta pedalando para casa. Que cara firmeza! Quanta coisa temos em comum embora sejamos absolutamente diferentes em nossas frentes de abordagem.

Noutra ocasião tive um encontro meio catártico e de repente me vi rodeado por Kelly, Paíque, Jô Pereira e Ruth… a trinca foi muito marcante. Pessoas negras completamente diversas em vários aspectos mas com algumas coisas muito em comum. O afeto além de revolucionário era o que nos unia.

Por fim, já na quinta-feira tive um outro tipo de encontro com Ricardo Bruns, Ricardo (Giro Preto), Rogério Rai e algumas outras pessoas.

Todos esses encontros giraram em torno do lançamento do livro do Peter Norton sobre tecnologia, urbanidades e desenvolvimento automotivo.

Não sabe do que estou falando? Veja aqui “https://rosalux.org.br/peter-norton-lanca-livro-no-brasil-sobre-ilusoes-tecnologicas-para-mobilidade/

Sei lá como mas eu me aproximei do autor e rolou uma boa química. Usei o restinho do meu inglês para conseguir me comunicar e…. voilá! Deu certo. Claro que tive uma ajudinho do Teacher Ricardo Bruns que veio na hora certa para ajudar na preparação.

Tive uma grande proximidade com o autor e isso foi maravilhoso. Digo isto porque o que está na mesa nunca é só sobre a apresentação formal de um livro ou o debate durante o evento. Essas oportunidades presenciais falam muito mais a respeito do momento presente e do presencial (olhe o sentido das palavras!) em que é possível explorar muito mais oportunidades do que um simples link girando no seu computador ou nas listas de whatsapp.

Se você quiser ter um panorama sobre o Peter Norton e o livro que ele está lançando na versão em português… é, basta ver o video acima que resume muito bem os aspectos gerais do que rolou.

Nesta semana eu readequei minha agenda para conseguir estar perto do autor. Queria pegar a nuance das falas. Para isso eu resolvi ir nos vários eventos que aconteceram em São Paulo (só não fui na apresentação na UNIFESP porque batia com meu horário de trabalho).

Para poder ir, fiz um grande arranjo na minha agenda e em alguns dias acordei de madrugadinha para poder trabalhar o mais cedo possível para poder estar meio livro algumas horas antes do que o habitual.

Graças a estes arranjos criativos, consegui ter um momento bem especial com o Peter. Consegui ter algumas horas para fazermos uma caminhada pela cidade. Coisa pouca e nada demais, mas para mim foi expressivo.

Esse tipo de prosa é diferente. Não é uma tietagem. Não é para elogiar formalmente. Não é para falar do livro ou da carreira. Caminhar é o momento de vivenciar coisas e de falar sobre tudo o que queremos falar e ouvir tudo o que podemos ouvir.

Logo no comecinho dos passos veio um assunto um tanto aleatório que depois se tornou o ponto central de boa parte da conversa: meu diagnóstico.

Bem, não quero falar muito disto mas preciso dar alguma contextualizada.

Eu tenho uma condição que limita minha interação social e me faz ser, digamos, bastante peculiar. Tenho uma forma de pensar e viver que é um pouco diferente do que é considerado o padrão. Isso me causa algumas sensibilidades, confusões e irritações desproporcionais.

Claro que eu mascaro bem isso. No meu histórico tem várias situações que hoje consigo entender melhor, mas que eram situações relacionadas à minha condição. Quer um exemplo: minha capacidade de socialização e minha forma discreta de ver e viver o mundo não são em vão. Quem já esteve comigo por mais de uma ocasião talvez entenda do que estou falando.

Bem, lá estava eu caminhando e falando um pouco sobre as urbanidades da cidade. O Peter é um bom ouvinte e um ótimo provocador. Conseguimos ver vários pontos em comum entre as grandes cidades americanas e a capital paulistana. O principal deste ponto é ter o carro como elemento crucial de produção do espaço.

Tínhamos várias limitações. O horário era curto e isso fazia com que não pudéssemos perder tempo em deslocamentos desncessários. Também por isso não poderíamos ir para outros lugares da cidade que talvez fossem necessário mas não estavam no nosso alcance. Os temas das nossas conversas também tinham de ser de certa forma limitados porque o cara tem sessenta anos e estava num maratona de conferências com um monte de pessoas todos os dias.

Para quem ouve é prazer mas para quem organiza e está envolvido nas conferências é puro trabalho. Cansaço define muito do que a diplomacia e elegância encobrem.

Caminhamos com tranquilidade. Preferimos andar devagar e ir a lugares bem próximos do hotel. Quase não tiramos fotografias. Conversamos numa intimidade sacrossanta sobre várias questões que envolvem nosso tema em comum, mas também falamos sobre limitações que nos envolvem.

É muito interessante ver o quanto o financiamento universitário privado condiciona a forma de pensar de todo um setor. Quem vai querer bater de frente com um engenheiro Phd falando sobre a melhor técnica e apresentando um monte de números e fórmulas? Eu não discutiria com esse cara! Mas ao mesmo tempo esse mesmo Phd pode ter estudado com financiamento de grupos econômicos que deram todo o suporte para ele pensar da forma como pensa.

O interesse privado ganha uma nova roupa acadêmica a cada dinheiro investido nas universidades.

Conhecer as limitações e saber lidar com elas. Nossa, como isso é importante! Saber que podemos muito pouco é um conhecimento que nos lberta de gastar tempo e energia com o que só nos trará mais cansaço e indisposição.

Sim, isso serve para muitas questões.

Do outro lado das limitações estão os apoios.

Sabe onde buscar apoio é essencial. Saber falar que precisamos de apoio é fundamental. Saber que precisamos de apoio é vital.

Estou passando por esta fase. Com quem contar? Como delimitar o apoio que preciso? Como resolver questões essenciais que brotaram na minha vida?

Sinceramente não tenho resposta alguma.

Caminhar o Peter revelou um negócio muito bom em mim. Bateu um negócio de olhar para os apoios que já existem e ver o quanto eles já se tornaram relevantes durante toda essa caminhada.

Olhei para o Thiago Beni e lembrei lááááá do comecinho (https://www.apocalipsemotorizado.net/ na dúvida dá uma olhadinha aqui)

Olhei para o Bruns e lembrei do quanto os bastidores do rolê se mesclam entre várias pessoas, momentos e sentimentos que nem sempre são explicados na hora mas que geram sementes que no momento certo germinam.

Olhei para o Paíque, Kelly e Jô e fiquei na certeza que eles fazem parte de algo em mim muito antes de estarmos mais pertos. Tem um lance meio intenso em olhar para alguém e saber que temos tanta coisa em comum que somos quase “novos amigos de infância” (ó, Paíque, ainda quero escrever aquele artigo com você… não vacila pq senão vou dar a letra para a Kelly… hehehe)

Olhei para Joyce da UFABC e tive uma sensação de que essa aproximação vai dar jogo em alguma coisa legal que nem sei o que é mas sei que já existe em algum lugar escondido no futuro.

Olhei para o Daniel e vi um cara firmeza equilibrando pratinhos para construir coisas importantes que vão muito além do que é construído. Acho que é disso que a vida real e intensa é feita, né? Não temos controle de nada mas podemos aproveitar os vínculos que chegam até nós.

Foi uma caminhada muito frutífera (com o Peter e na vida como um todo) para falar bastante sobre quem nós somos quando estamos com quem queremos.

Disso não abro mão.

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