Sobre a complexa tarefa de ajudar a nos ajudar

Guilherme Moraes da Silva
6 min readSep 22, 2023

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Gosto de algum envolvimento sobre matérias de interesse coletivo, principalmente sobre questões de mobilidade urbana

O que dá certo?
O que pode melhorar?
Como algumas decisões são tomadas?

Enfim, é muito bom olhar e acompanhar um pouco disso. Cidadania tem dessas coisas bem além das eleições. Mas é claro que isso cansa muito e sempre há algumas dúvidas de que a postura cidadã tem outros interesses.

No meu caso não tem!

Só gosto de tentar ajudar minha cidade a ser um pouco melhor a cada dia.

Nunca sei para onde vai para frente em matéria de mobilidade motorizada

Acompanho várias discussões e decisões desde 2008. Já vi vários prefeiros e secretários irem e virem. Os cargos de chefia de planejamento e execução sempre mudam e algumas carinhas são conhecidas.

Os técnicos são os mesmos, ou quase.

Alguns técnicos se aposentam ou vão trabalhar outros lugares. Certos eles! Sempre queremos um lugar de trabalho melhor, né. E é bem chato receber críticas todo dias, ser ridicularizado e ver nosso trabalho sabotado por um asfaltamento qualquer. Todos queremos reconhecimento.

Então eu estive em uma ocasião em que conheci pessoalmente alguns técnicos que eu mantenho contato há alguns anos.

Não os conhecia porque sempre nosso contato é por ofício ou por reuniões da Câmara Temática da Bicicleta (CTB). Ou seja, o assunto sempre é protocolar e respeitoso com tensões por todos os lados.

Nem sempre concordo com eles, mas entendo o papel que exercem.

“Respeitosamente quero partir você no meio”, é como penso. Mas daí respiro e deixo a raiva passar

Tem um enorme campo político após a tomada de decisões técnicas.

Daí não é com eles, né, embora eles sempre arquem com a bronca de tirar leite de pedra e funcionam como o recheio de um sanduíche em que de um lado tem quem executa as ordens e do outro lado tem quem toma as decisões.

Nós da sociedade civil estamos bem mais do lado de quem executa as ordens. Estamos do lado da rua e sabemos que o ângulo de algumas curvas são horríveis porque joga o ciclista com enorme força centrífuga para o meio de carros acelerados em uma descida (sim, estou falando daquela quina no topo da sena madureira).

Dá uma olhada nesta vistoria feita aqui neste link, ó (explica uns negócio sa Sena Madureira)

https://www.facebook.com/watch/live/?ref=watch_permalink&v=842259156926058

Nós da sociedade civil estamos o dia todo em contato com agentes de trânsito que dão o suor todo dia para tentar absorver a lógica de planejamentos e decisões tomadas por quem nem sempre sua dentro do ar condicionado.

Vejo pessoas tentando fazer algo legal pela cidade.
Vejo planejadores e técnicos tentando fazer alguma coisa funcionar mas na sala do lado tem gente tomando decisões para manter tudo como sempre esteve (talvez por isso que haja um epidemia de carros, doenças respiratórias e congestionamentos).

é sério que este normal é normalizado?

Eu nunca brigo com quem quer me ajudar.

Não brigo mas também não rasgo elogios.

Tem uma linha bem nítida entre a sociedade civil e o poder público.

Mesmo os melhores agentes públicos ainda estão do lado de lá da linha. Eles podem fazer o possível, mas nós queremos o impossível.

Se conquistamos ciclovias então queremos a conexão com o transporte público. Se temos conexão com o transporte público então queremos ciclovias mais largas e a regulamentação do programa BIKESP (sim, essa é uma lei já aprovada que prevê que o uso da bicicleta vai gerar créditos para uso no bilhete único)

Aqui neste link abaixo explica tudo direitinho, clica e entenda melhor os paranauê tudinho

Tudo é questão de utopias e a sociedade civil é o reino das utopias.

Um dia houve uma utopia da construção de cidades modernas cheias de carros por todos lados.

Bem, deixa eu te contar uma coisa: essa utopia criou essa distopia fedorenta e congestionada que temos hoje. Era um sonhos motorizado que se tornou pesadelo. Há quem diga que é um apocalipse motorizado.

Este video é muito didático e ensina algumas coisas necessárias. Pare tudo e assista, pfv. (nunca te pedi nada)

Se alguém sonhou com uma cidade cheia de carros então nós também podemos sonhar com uma cidade mais humanizada em que pedestres, cadeirantes, crianças, idosos e mulheres não tenham medo de sair para viver dias felizes.

Atravessar a rua não precisa necessariamente ser um experiência de quase morte.

Bom, eu falei tudo isso para indicar de que lado da conversa eu estou.

Daí eu estive conversando com o pessoal do poder público e recebi alguns elogios muito legais. Tomei a delicadeza de agradecer com sinceridade.

Mas quando voltei para casa fiquei pensativo e com a cabeça fervendo….

Elogios são bons mas massageiam demais o ego.

Tinha muita gente boa que deveria estar ali e que mereceria muito mais elogio do que eu. Sou só mais uma pessoa que está nesta trincheira cotidiana e que quer que a prefeitura faça mais, muito mais

Não consigo achar normal ver um caixa enorme jorrando dinheiro para asfalto mas que para infraestrutura cicloviária tem alguns trocos dados em uma PPP de habitação que demora anos e anos para ser efetivada

Sei lá, acho meio errado fazer o dinheiro da COHAB ir para mobilidade já que o FUNDURB tem um caixa BILIONÁRIO vazando de dinheiro

Eu acho estranho tudo isso e tenho quase certeza que as migalhas que nos dão não enchem nossas barrigas famintas de cidadania. É pouco, é muito pouco! Mas é melhor que nada, com certeza.

Fiquei lisongeado com os elogios.

É importante elogiar em público e deixar bem clara a admiração que temos por poder sentar à mesa e na mesa para conversar sobre futuros possíveis. Mas ainda falta muito para estarmos felizes… muito é muito MESMO

São sentimentos muito complexos e às vezes nem sei se estou pensando direito nas coisas.

Tem gente que eu acho que está ali para dar um tempero bem gostoso nas migalhas que o andar de cima nos oferta. É melhor comer uma migalha apetitosa ou ficar com fome? Claro que eu quero matar minha fome e não quero migalhas! Mas se hoje tem migalhas, o que fazer?

Poxa, eu sou ingrato! São alguns contratos de milhões sobre manutenção de ciclovias! Sim, são contratos grandes, mas estamos falando da megalópole. Estamos falando de bilhões dados para asfaltos e vias que são recapeadas ano sim e outro também.

Tem muito motorista porque tem uma cidade inteira voltada para os carros ou a cidade está voltada para os carros porque tem muito motorista.

Filosófico isso? Não é só realdade aplicada com um pouquinho de reflexão

Até pouco tempo atrás a cidade tinha uma USINA DE ASFALTO todinha própria para fazer e acontecer dentro deste apetitoso bifão que é o rodoviarismo. O tapa-buracos não para nenhum dia da semana, 24h por dia….

Sonhar é querer muito? Sinceramente eu acho que não. Não é questão de ingratidão mas, sim, de saber que podemos muito mais.

A cidade é como um filho que cuidamos com carinho e sabemos que ele pode evoluir até o infinito. No nosso caso esse filhão está usando drogas pesadas e quer se afundar mais nesse mar de lama asfáltica.

Parece droga, mas é só mais um saidinha para dirigir logo ali

Dar um pequeno respiro nesse mar de drogas pesadas é importantíssimo mas todos queremos que o uso nocivo de drogas pare imediatamente.

É sobre isso que penso sempre que lido com qualquer agente público que trabalhe com mobilidade urbana. Eles são técnicos mas a técnica tem limitações muito grandes…

Precisamos nos ajudar a ajudar nossas cidades.

E isso é para anteontem.

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