Pontes, rios e travessias

Guilherme Moraes da Silva
6 min readMar 13, 2024

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No texto de hoje não vou falar da monarquia judicial, das histórias da firma ou de bicicletas. Sou monotemático, mas abro exceções. Tudo é transitório e intenso a ponto da impressão ser de que a regra é um movimento tão forte que carrega tudo em sua correnteza.

Aceitei me guiar por um caminho que não sei por onde vai dar. Precisei de ajuda e espero que desta vez dê certo. Foram tantas outras vezes que não deram certo que hoje eu já nem sei mais se realmente queria que desse certo. Não se trata de uma questão de querer: problemas precisam ser resolvidos e se não dá para encarar sozinho então é preciso pedir ajuda.

Recentemente descobri que eu fico monotemático com facilidade. Fixo em um assunto e vou me deixando levar por curiosidade banais até cair no fosse da profundidade. Quem mais iria se interessas por aviação civil por puro hoobie só para poder focar a mente em algo tão específico e detalhada que pudesse calar os outros argumentos simultâneos sobre coisas que preciso fazer no cotidiano.

Se você acha que são os flaps que fazem o avião mudar de rumo… bem, isso está meio certo e meio errado. As estruturas móveis das asas são ao menos três e, em relação á mudança de curso o ailerons possuem um momento força muito maior do que os flaps.

Algumas pessoas insistiram comigo que eu devo ter alguma questão comportamental ou algo do tipo. Vieram me dizer sobre TDAH. Ouvi com atenção. Disseram que eu pulo de assunto em assunto até a exaustão ou a perda total do argumento inicial.

Isso me fez pensar bastante. Eu normalmente não sou uma pessoa falando. Prefiro a escrita e faço isso porque sei que na escrita eu estarei sendo ouvido. A fala nem sempre significa que alguém está ouvindo. Escrever significa que alguém deitou atenção pelo menos por alguns momentos no que foi escrito (ainda que seja a atenção de tiktok por meros segundos).

Uso do silêncio par me fazer ouvido. Gosto bastante de deixar com que minha mera presença seja notada e sentida sem que eu dê uma palavra no ambiente. Isso faz com que eu aprenda bastante e guarde minha opinião para mim mesmo.

Nasce então a necessidade humana de se criar pontes. Como é possível criar vínculos e pontes com pessoas que me são tão hostis? Sim, uso a palavra hostilidade porque me soa mas amenos do que agressividade (e também me parece mais uma palavra mais emplumada). Tenho a nítida impressão de que minha fala é aceita com dúvidas, desinteresse e agressividade, não importa o que eu fale. Essa impressão vem de muito tempo e sempre tem esse viés de que eu falo demais e falo do que eu não sei. O caminho mais lógico foi ouvir mais e aprender mais. Daí caí na ilusão de que o conhecimento me libertaria e eu seria mais ouvido e respeitado.

Algo muito interessnate é notar que até elementos estáticos possuem importante funções nas aeronaves. O profundor e o leme só ganham razão-força pela sua localização e, também, pelos estabilizadores horizontal e vertical

Tem uma banda que eu gosto muito chamada “Móveis Coloniais de Acaju”. Acho que esta banda não está mais ativa. Lembro de ouvir o som deles lá pelos idos de 2006. Teve um disco maravilhoso produzido pelo Naná Vasconcelos…. coisa fina. Os caras fazem uma espécie de Ska Universitário com umas tendências meio pedantes e meio divertidas.

Lembrei desta banda porque tem uma música deles que me marcou bastante que possui um verso que diz que “se você quer se ouvido é bom ficar calado

Ouve aqui e presta atenção na letra meio eliptica e helicoidal.

Essas pontes me tomam muita energia. A vida lá fora são infinitas pontes ou nada. Para conseguir algo é preciso criar essas pontes, falar com pessoas, negociar verbalmente ou não, dar passos para trás e outros para frente. Isso é só ontologia. As coisas são assim porque simplemente são. Enquanto eu frito de ideias e estratégias vou vivendo este jogo e gastando energia. Cansa muito e dá vontade e não jogar mais, o que é bem impossível porque…. bem, as coisas são assim e não dá para lutar contra uma maré tão forte.

Toquei na palavra maré. Essa palavra não cabe em rios (assim como está no título deste texto). Rio não tem maré, né… correnteza é uma atividade gerada por grandes porções de água em ambiente aberto o suficiente para estar na influência de correntes de ar.

Em uma conversa recente me foi levantada a questão sobre as travessias e para onde elas nos levam. Este texto começou a ser escrito por causa disso!

Eu me calo e observo bastante para criar certas formas de parcerias. Observo o movimento das pessoas e tento perceber o que é poderá tornar possível a comunicação. Não quero fazer travessias em pequenos rios que podem ser transpassados molhando até os joelhos ou boiando por alguns segundos. Isso é bobagem! O tempo de observação e interpertação me ajuda a entender que eu realmente não quero aquelas parcerias. Para não implodir e fechar possíveis pontes, eu tento evitar me expor. Melhor a dúvida e a provavel neutralidade do que a aversão.

Estou falando isso porque tem sempre uma redoma que me acompanha. Essa redoma tem dois gases invisíveis chamados classe e raça. Tudo fica ali no invisível dizendo para mim um monte de coisas para tentar explicar as questões ao meu redor.

Esses dias vi um video do Silvio Almeida que pode ajudar a entender um pouco do que estou dizendo.

Neste video (não, não vou facilitar sua vida: procure nas redes sociais). O Silvio falava se ele estudava pouco ele era preguiçoso mas se ele estudava muito ele era arrogante.

É exatamente assim que me sinto! Não importa o que eu faça: sempre serei um inadaptado.

Claro que muito disso eu justifico exatamente na mesma chave de interpretação que o Silvio utilizou. Eu sou explicado antes mesmo de qualquer coisa que eu fale, por ser um homem, negro, alto…. parece que tem uma caixinha que diz que eu vou ser agressivo ou coitadinho.

Todo dia tem uma Professora Morello cruzando meu caminho

Mas além desta chave de interpretação, a neurodivergência me ajuda a entender que quando algo me chama a atenção, realmente vai ser algo empolgante e prolongado. Vou olhar e acariciar o assunto até se tornar algo comum para mim. Quer exemplo: quando estou em uma aeronave tendo prestar atenção na decolação para verificar o momento em que as rodas perdem o contato com o solo e, na aterrisagem, tento perceber se a aeronave chegou no solo muito antes do ponto de contato inicial da pista.

Tudo bem, mas o que fazer com isso? Me gabar por ser um curioso sobre aviação civil? óbvio que não. Prazes e tristezas são sentimento nobres demais para serem partilhados aos ventos. Isso é intimdade que eu falo com pouquissimas pessoas. E faço assim porque o tempo me mostrou que as pessoas não se importam com o que eu gosto. Elas querem extrair de mim o que interessa para elas e isso não envolve o que eu gosto (e quando envolve é em uma situação bem utilitária).

Percebi que tenho de domar meus interesses e controlar a porta de entrada. Se eu entrar em um assunto não vou conseguir sair. Nem sempre consigo evitar essa porta de entrada, mas se eu puder vou evitar. Na prática isso acontece assim: evito comprar livros que goste porque vou ler e ficar monotemático por alguns meses. Os livros que tenho estão um pouco longe do meu alcance e estou evitando uma série de leituras porque agora preciso terminar meu mestrado e não posso misturar mobilidade urbana com a evolução fenomenológica da criminalidade (sim, gosto de ler sobre isso e gosto da forma como o Josmar Josino e a Fátima Souza contam os bastidores do jornalismo investigativo).

É isso que eu que queria falar sobre as travessias que faço. Estou cansado. Sinto que muita energia foi dedicada a este texto. Estava tudo bem e de repente a energia entrou na reserva.

Não queria que foss assim. Queria contar muito mais…

Mas o que posso entregar hoje é isso. E assim será.

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